quinta-feira, 24 de março de 2011

Assim Será

"Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus." - Jesus (Lucas, 12:21)

Guardarás inúmeros títulos de posse sobre as utilidades terrestres, mas  se não fores senhor de tua própria alma, todo o teu patrimônio não passará de simples introdução à loucura.
Multiplicarás, em torno dos teus pés, maravilhosos jardins de alegria juvenil, entretanto, se não adquirires o conhecimento superior para o roteiro de amanhã, a tua mocidade será a véspera ruidosa da verdadeira velhice.
Cobrirás com medalhas honoríficas o teu peito, aumentando a séria dos admiradores que te aplaudem, mas, se a luz da reta consciência não te banhar o coração, assemelhar-te-ás a um cofre  de trevas, enfeitado por fora e vazio por dentro.
Amontoarás riquezas e apetrechos de conforto para a tua casa terrena, imprimindo-lhe perfil dominante e revestindo-a de esplendores artísticos, contudo, se não possuíres na intimidade do lar a  harmonia que sustenta a felicidade de viver, o teu domicílio será tão-somente um mausoléu adornado.
Empilharás moedas de ouro e prata, à sombra das quais falarás com autoridade e influência aos ouvidos do próximo, todavia, se teus haveres não se dilatarem, em forma de socorro e trabalho, estímulo e educação, em favor dos semelhantes, serás apenas  um viajor descuidado, no rumo de pavorosas desilusões.
Crescerás horizontalmente, conquistarás o poder e a fama, reverenciar-te-ão a presença física na Terra, mas, se não trouxeres contigo os valores do bem, ombrearás com os infelizes, em marcha imprevidente para as ruínas do desencanto.
Assim será "todo aquele que ajunta tesouros para si, sem ser rico para com Deus."

Emmanuel. Fonte Viva. Psicografado por F. C. Xavier

Utilidade providencial da riqueza. Provas da riqueza e da miséria
Se  a  riqueza  houvesse  de  constituir  obstáculo  absoluto  à  salvação  dos  que  a possuem,  conforme  se  poderia  inferir  de  certas  palavras  de  Jesus,  interpretadas  segundo  a letra  e  não  segundo  o  espírito,  Deus,  que  a  concede,  teria  posto  nas  mãos  de  alguns  um instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, idéia que repugna à razão. Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito  arriscada,  mais  perigosa  do  que  a  miséria.  É  o  supremo  excitante  do  orgulho,  do egoísmo e da vida sensual. E o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os  pensamentos.  Produz  tal  vertigem  que,  muitas  vezes,  aquele  que  passa  da  miséria  à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o  ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão. Mas, do fato de a riqueza tornar difícil a jornada, não se segue que a torne impossível e não possa vir a ser um meio de salvação para o que dela sabe  servir-se,  como  certos  venenos  podem  restituir  a  saúde,  se  empregados  a  propósito  e com discernimento.
Quando Jesus disse ao moço que o inquiria sobre os meios de ganhar a vida eterna:
"Desfaze-te  de  todos  os  teus  bens  e  segue-me",  não  pretendeu,  decerto,  estabelecer  como princípio absoluto que cada um  deva  despojar-se  do  que  possui  e  que  a  salvação  só  a  esse preço  se  obtém;  mas,  apenas  mostrar  que  o  apego  aos  bens  terrenos  é  um  obstáculo  à salvação. Aquele moço, com efeito, se julgava quite porque observara certos mandamentos e, no entanto, recusava-se à idéia de abandonar os bens de que era dono. Seu desejo de obter a vida eterna não ia até ao extremo de adquiri-la com sacrifício.
O que Jesus lhe propunha era uma prova decisiva, destinada a pôr a nu o fundo do seu pensamento.  Ele  podia,  sem  dúvida,  ser  um  homem  perfeitamente  honesto  na  opinião  do mundo, não causar dano a ninguém, não maldizer do próximo, não ser vão, nem orgulhoso, honrar a seu pai e a sua mãe. Mas, não tinha a verdadeira caridade; sua virtude não chegava até à abnegação. Isso o que Jesus quis demonstrar. Fazia uma aplicação do princípio: "Fora da caridade não há salvação".
A conseqüência dessas palavras, em sua acepção rigorosa, seria a abolição da riqueza por prejudicial à felicidade futura e como causa de uma imensidade de males na Terra seria, ao demais, a condenação do trabalho que a pode granjear; conseqüência absurda, que reconduziria o homem à vida selvagem e que, por isso mesmo, estaria em contradição com a lei do progresso, que é lei de Deus.
Se a riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo  tantos  crimes,  não  é  a  ela  que  devemos  inculpar,  mas  ao  homem,  que  dela  abusa, como de todos os dons  de  Deus.  Pelo  abuso,  ele  torna  pernicioso  o  que  lhe  poderia  ser  de maior utilidade. E a conseqüência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem. Se não é um elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual.
Com  efeito,  o  homem  tem  por  missão  trabalhar  pela  melhoria  material  do  planeta.
Cabe-lhe  desobstrui-lo,  saneá-lo,  dispô-lo  para  receber  um  dia  toda  a  população  que  a  sua extensão comporta. Para alimentar essa população que cresce incessantemente, preciso se faz aumentar a produção. Se a produção de um país é insuficiente, será necessário buscá-la fora.
Por isso mesmo, as relações entre os povos constituem uma necessidade. A fim de mais as facilitar,  cumpre  sejam  destruídos  os  obstáculos  materiais  que  os  separam  e  tornadas  mais rápidas as comunicações. Para trabalhos que são obra dos séculos, teve o homem de extrair os materiais até das entranhas da terra; procurou na Ciência os meios de os executar com maior segurança e rapidez. Mas, para os levar a efeito, precisa de recursos: a necessidade fê-lo criar a riqueza, como o fez descobrir a Ciência. A atividade que esses mesmos trabalhos impõem lhe  amplia  e  desenvolve  a  inteligência,  e  essa  inteligência  que  ele  concentra,  primeiro,  na satisfação  das  necessidades  materiais,  o  ajudará  mais  tarde  a  compreender  as  grandes verdades morais. Sendo a riqueza o meio primordial de execução, sem ela não mais grandes trabalhos,  nem  atividade,  nem  estimulante,  nem  pesquisas.  Com  razão,  pois,  é  a  riqueza considerada elemento de progresso.

O Evangelho Segundo o Espiritismo