sábado, 20 de outubro de 2012
Solidão
“O presidente, porém, disse: — mas, que mal fez ele? E eles mais clamavam, dizendo: — seja crucificado.”
(Mateus, 27:23)
À medida que te elevas, monte acima, no desempenho do próprio dever, experimentas a solidão dos cimos e incomensurável tristeza te constringe a alma sensível.
Onde se encontram os que sorriram contigo no parque primaveril da primeira mocidade? Onde pousam os corações que te buscavam o aconchego nas horas de fantasia? Onde se acolhem quantos te partilhavam o pão e o sonho, nas aventuras ridentes do início?
Certo, ficaram...
Ficaram no vale, voejando em círculo estreito, à maneira das borboletas douradas, que se esfacelam ao primeiro contacto da menor chama de luz que se lhes descortine à frente.
Em torno de ti, a claridade, mas também o silêncio...
Dentro de ti, a felicidade de saber, mas igualmente a dor de não seres compreendido...
Tua voz grita sem eco e o teu anseio se alonga em vão.
Entretanto, se realmente sobes, que ouvidos te poderiam escutar a grande distância e que coração faminto de calor do vale se abalançaria a entender, de pronto, os teus ideais de altura?
Choras, indagas e sofres...
Contudo, que espécie de renascimento não será doloroso?
A ave, para libertar-se, destrói o berço da casca em que se formou, e a semente, para produzir, sofre a dilaceração na cova desconhecida.
A solidão com o serviço aos semelhantes gera a grandeza.
A rocha que sustenta a planície costuma viver isolada e o Sol que alimenta o mundo inteiro brilha sozinho.
Não te canses de aprender a ciência da elevação.
Lembrate do Senhor, que escalou o Calvário, de cruz aos ombros feridos.
Ninguém o seguiu na morte afrontosa, à exceção de dois malfeitores, constrangidos à punição, em obediência à justiça.
Recordate dele e segue...
Não relaciones os bens que já espalhaste.
Confia no Infinito Bem que te aguarda.
Não esperes pelos outros, na marcha de sacrifício e engrandecimento. E não olvides que, pelo ministério da redenção que exerceu para todas as criaturas, o Divino Amigo dos Homens não somente viveu, lutou e sofreu sozinho, mas também foi perseguido e crucificado.
Emmanuel, Fonte Viva
Psicografado por F.C.Xavier
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Insegurança e crises
Esboroam-se, sob os camartelos das revoluções hodiernas, os edifícios da tradição ultramontana, cedendo lugar às apressadas construções do desequilíbrio, sem memória ancestral, sem alicerce cultural.
Ruem, diante dos abalos da ciência tecnológica, o empirismo passadista e as obras da arbitrária dominação totalitária, substituídos pelo alucinar das novas maquinações de aventureiros desalmados, perseguindo suas ambições imediatistas a prejuízo da sociedade, do indivíduo.
A política desgovernada exibe os seus corifeus, que se fazem triunfadores de um dia, logo passando ao anonimato, repletos de gozos e valores perecíveis, a intoxicar-se nos vapores dos vícios e das perversões em que falecem os últimos ideais que ainda possuíam.
Os direitos humanos decantados em toda parte sofrem o vilipêndio daqueles que os deveriam defender, em razão do desrespeito que apresentam diante das leis por eles mesmos elaboradas, em desprezo flagrante às Instituições que se comprometeram socorrer, por descrédito de si próprios.
A anarquia substitui a ordem e as transformações sociais apressadas não têm tempo de ser assimiladas, porque substituídas pelos modismos que se multiplicam em velocidade ciclópica.
Velhos dogmas, nascidos e cultivados no caldo da ignorância, são esquecidos e nascem as idéias liberais revolucionárias, que instigam o homem fraco contra o seu irmão mais forte gerando ódios, quando deveriam amansar o lobo ameaçador, a fim de que, pacificado, pudesse beber na mesma fonte com
o cordeiro sedento, que lhe receberia proteção dignificadora.
As circunstâncias externas do inter-relacionamento das criaturas, fenômeno conseqüente ao desequilíbrio do indivíduo, engendram no contexto hodierno a insegurança, que fomenta as crises.
Sucedem-se, desse modo, as crises de autoridade, de respeito, de honradez, de valores ético-morais, e a desumanização da criatura assoma nos painéis do comportamento, insensibilizando-a pelo amolentamento emocional ou exacerbação, na volúpia do prazer e da violência conduzidos pelas
ambições desmedidas.
As crises respondem pela desconfiança das pessoas, umas em relação às outras, pelo rearmamento belicoso de uns indivíduos contra os outros, pela agressividade automática e atrevida.
A queda do respeito que todos se devem, respeito este sem castração nem temor, estimula a indisciplina que começa na educação das gerações novas, relegadas a plano secundário, em que se cuidam de oferecer coisas, em mecanismos sórdidos de chantagem emocional, evitando-se dar amor, presença, companheirismo e orientação saudável.
A crise de autoridade responde pela corrupção em todas as áreas, sob a cobertura daqueles que deveriam zelar pelos bens públicos e administrá-los em favor da comunidade, pois que, para tal se candidataram aos postos de comando, sendo remunerados pelos contribuintes para este fim.
Como efeito, os maus exemplos favorecem a desonestidade, discreta e pública, dos membros esfacelados do organismo social enfermo, preparando os bolsões de miséria econômica, moral, com todos os ingredientes para a rebelião criminosa, o assalto a mão armada, o apropriamento indébito dos bens alheios, a insegurança geral. O que se nega em compromisso de direito, é tomado em mancomunação da força com o ódio.
Mesmo os valores espirituais do homem se apresentam em crise de pastores, e amigos, capazes de exercerem o ministério da fé religiosa com serenidade, sem separativismo, com amor, sem discórdia na grei, com fraternidade, sem disputas da primazia, sem estrelismo.
Nas várias escolas de fé espocam a rebelião, as disputas lamentáveis, a maledicência ácida ou o distanciamento formando quistos perigosos no corpo comunitário.
O homem apresenta-se doente, e a sociedade, que lhe é o corpo grupal, encontra-se desestruturada em padecimento total.
As crises gerais, que procedem da insegurança individual, são, por sua vez, responsáveis por mais altas e expressivas somas de desconforto, insatisfação, instabilidade emocional do homem, formando um círculo vicioso que se repete, sem aparente possibilidade de arrebentar as cadeias fortes que o constituem.
Vitimado por sucessivos choques desde o momento do parto, quando o ser é expulso do claustro materno, onde se encontrava em segurança, este enfrenta, desequipado, inumeráveis desafios que não logra superar. Chegando a idade adulta, ei-lo receoso, desestruturado para enfrentar a maquinaria
insensível dos dias contemporâneos, em que a eletrônica e a robótica são conduzidas, porém, avançam, tomando o controle da situação e, lentamente, reduzindo-o a observador das respostas e imposições digitadas, apertando ou desligando controles e submetendo-se aos resultados preestabelecidos, sem emoção, sem participação pessoal nos dados recolhidos.
Noutras circunstâncias, ou em estado fetal, experimenta os choques geradores de insegurança, no comportamento da gestante revoltada diante da maternidade não desejada e até mesmo odiada.
O jogo de reações nervosas, as vibrações deletérias da revolta contra o ser em formação, atingem-lhe os delicados mecanismos psíquicos, desarmonizando os núcleos geradores do futuro equilíbrio, sob as chuvas de raios destruidores, que os afetam irreversivelmente.
O que o amor poderia realizar posteriormente e a educação lograr em forma de psicoterapia, ficam, à margem, sob os cuidados de pessoas remuneradas, sem envolvimento emocional ou interesse pessoal, produzindo marcas profundas de abandono e solidão, que ressurgirão como traumas danosos no
desenvolvimento da personalidade.
A par dos fatores sócio-mesológicos, outras razões são preponderantes na área do comportamento inseguro, que são aquelas que procedem das reencarnações anteriores, malogradas ou assinaladas pelos golpes violentos que foram aplicados pelo Espírito em desconcerto moral, ou que os padeceu nas rudes pugnas existenciais.
Assinalando com rigor a manifestação da afetividade tranquila ou desconfiada, aquelas impressões são arquivadas no inconsciente profundo, graças aos mecanismos sutis do perispírito. O homem é um ser inacabado, que a atual existência deverá colaborar para o aperfeiçoamento a que se encontra destinado. Faltando-lhe os recursos favoráveis ao ajustamento, torna-se uma peça mal colocada ou inadaptada na complexidade da vida social, somando à sua a insegurança dos outros membros, assim favorecendo as crises individuais e coletivas.
Por desinformação ou fruto de um contexto imediatista consumista, elaborou-se a tese de que a segurança pessoal é o resultado do ter, que se manifesta pelo poder e recebe a resposta na forma de parecer. Todos os mecanismos responsáveis pelo homem e sua sobrevivência se estribam
nessas propostas falsas, formando uma sociedade de forma, sem profundidade, de apresentação, sem estrutura psicológica nem equilíbrio moral.
Trabalhando somente no exterior, relega-se, a plano secundário ou a nenhum, o sentido ético do ser humano, da sua realidade intrínseca, das suas possibilidades futuras, jacentes nele mesmo.
O homem deve ser educado para conviver consigo próprio, com a sua solidão, com os seus momentâneos limites e ansiedades, administrando-os em proveito pessoal, de modo a poder compartir emoções e reparti-las, distribuir conquistas, ceder espaços, quando convidado à participação em outras vidas, ou pessoas outras vierem envolver-se na sua área emocional.
Desacostumado à convivência psíquica consciente com os seus problemas, mascara-se com as fantasias da aparência e da posse, fracassando nos momentos em que se deve enfrentar, refletido em outrem que o observa com os mesmos conflitos e inseguranças. As uniões fraternais então se desar-
ticulam, as afetivas se convertem em guerras surdas, o matrimônio naufraga, o relacionamento social sucumbe disfarçado nos encontros da balbúrdia, da extravagância, dos exageros alcoólicos, tóxicos, orgíacos, em mecanismos de fuga da realidade de cada um.
A educação, a psicoterapia, a metodologia da convivência humana devem estruturar-se em uma consciência de ser, antes de ter; de ser, ao invés de poder, de ser, embora sem a preocupação de parecer
Os valores externos são incapazes de resolver as crises internas, aliás, não poucas vezes, desencadeando-as.
O que o homem é, suas realizações íntimas, sua capacidade de compreender-se, às pessoas e ao mundo, sua riqueza emocional e idealística, estruturam-no para os embates, que fazem parte do seu modus vivendi e operandi, neste processo incessante de crescimento e cristificação.
A coragem para os enfrentamentos, sem violência ou recuos, capacita-o para os logros transformadores do ambiente social, que deslocará para o passado a ocorrência das crises de comportamento, iniciando-se a era de construção ideal e de reconstrução ética, jamais vivida antes na sua legitimidade.
Os conceitos do poder e da força estão presentes na sistemática governança dos povos.
Sempre os militares governaram mais do que os filosóficos, e o poder sempre esteve por mais tempo nas mãos dos violentos do que na sabedoria dos pacíficos, gerando as guerras exteriores, porque os seus apaniguados viviam em constantes guerras íntimas, inseguros, aguardando a traição dos fracos que, bajuladores, os rodeavam, e a audácia dos mais fortes, que lhes ambicionavam o poderio, terminando, quase todos, vítimas das suas nefastas urdiduras.
A segurança íntima conseguida mediante o autodescobrimento, a humanização e a finalidade nobre que se deve imprimir à vida são fatores decisivos para a eliminação das crises, porqüanto, afinal, a descrença que campeia e o desconcerto que se generaliza são defluentes do homem moderno que se encontra em crise momentânea, vitimado pela insegurança que o aturde.
O Homem Integral - Joanna de Angelis
Psicografado por D. P. Franco
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Movimento Universitário Espírita
Pessoal, gostaria de divulgar minha dissertação de mestrado sobre o Movimento Universitário Espírita. Já está disponível na Biblioteca Digital da Unicamp. Acessem: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000849101&opt=4
O trabalho está recheado de questões polêmicas que considero importantes. Será um prazer debatê-las!
O trabalho está recheado de questões polêmicas que considero importantes. Será um prazer debatê-las!
domingo, 6 de maio de 2012
FÉ INOPERANTE
“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.” - (TIAGO,2:17.)
A fé inoperante é problema credor da melhor atenção, em todos os tempos, a fim de que os discípulos do Evangelho compreendam, com clareza, que o ideal mais nobre, sem trabalho que o materialize, a
benefício de todos, será sempre uma soberba paisagem improdutiva.
Que diremos de um motor precioso do qual ninguém se utiliza? de uma fonte que não se movimente para fertilizar o campo? de uma luz que não se irradie?
Confiaremos com segurança em determinada semente, todavia, se não a plantamos, em que redundará nossa expectativa, senão em simples inutilidade? Sustentaremos absoluta esperança nas obras que a tora de madeira nos fornecerá, mas se não nos dispomos a usar o serrote e a plaina, certo a matéria-prima repousará, indefinidamente, a caminho da desintegração.
A crença religiosa é o meio.
O apostolado é o fim.
A celeste confiança ilumina a inteligência para que a ação benéfica se estenda, improvisando, por toda parte, bênçãos de paz e alegria, engrandecimento e sublimação.
Quem puder receber uma gota de revelação espiritual, no imo do ser, demonstrando o amadurecimento preciso para a vida superior, procure, de imediato, o posto de serviço que lhe compete, em favor do progresso comum.
A fé, na essência, é aquele embrião de mostarda do ensinamento de
Jesus que, em pleno crescimento, através da elevação pelo trabalho incessante, se converte no Reino Divino, onde a alma do crente passa a viver.
Guardar, pois, o êxtase religioso no coração! sem qualquer atividade nas obras de desenvolvimento da sabedoria e do amor, consubstanciados no serviço da caridade e da educação, será conservar na terra viva do sentimento um ídolo morto, sepultado entre as flores inúteis das promessas brilhantes.
Emmanuel
Fonte Viva
Psicografado por Francisco C. Xavier
terça-feira, 24 de abril de 2012
Opinião: Sexo, Sexualidade(s) e Espiritismo
Artigo original em: http://maeliberdade.blogspot.com.br/2011/11/opiniao-sexo-sexualidades-e-espiritismo.html
Danilo Arnaut
Participo de um grupo discussão universitário de orientação espiritista, do qual fazem parte estudantes de diversas áreas acadêmicas, de diferentes origens e credos também. Em um dos nossos encontros, ofereci-me para fomentar o debate, trazendo elementos para uma discussão sobre o tema “Sexualidade”, proposto pelo grupo no início do ano letivo. Estando longe de ser um especialista no assunto e dispondo de pouco tempo para um pesquisa mais apurada ou para o amadurecimento de uma reflexão a respeito, fiz algumas anotações bastante preliminares e as dividi em três etapas: uma visão geral dos debates científicos sobre sexualidade (I), notas sobre o tema na doutrina e no movimento espiritistas (II) e, por fim, questionamentos e perspectivas no âmbito da sociedade contemporânea (III).
Participo de um grupo discussão universitário de orientação espiritista, do qual fazem parte estudantes de diversas áreas acadêmicas, de diferentes origens e credos também. Em um dos nossos encontros, ofereci-me para fomentar o debate, trazendo elementos para uma discussão sobre o tema “Sexualidade”, proposto pelo grupo no início do ano letivo. Estando longe de ser um especialista no assunto e dispondo de pouco tempo para um pesquisa mais apurada ou para o amadurecimento de uma reflexão a respeito, fiz algumas anotações bastante preliminares e as dividi em três etapas: uma visão geral dos debates científicos sobre sexualidade (I), notas sobre o tema na doutrina e no movimento espiritistas (II) e, por fim, questionamentos e perspectivas no âmbito da sociedade contemporânea (III).
I. Ciências do Sexo? Sexualidades nas ciências
O
tema da sexualidade humana, isto é, das vivências sexuais de homens e
mulheres foi, por muito tempo, ao menos nas sociedades ocidentais, um
tema tradicionalmente marcado, impregnado, quando não dominado pelo
discurso, prática e pensamento religiosos. Com o declínio do poder de
influência das religiões no ocidente, a medicina e as ciências do
comportamento, com destaque para a psicologia, tornam-se a base para a
construção de novas normatividades (BOZON, 2004). Assim, o século XX foi
marcado pela chamada revolução contraceptiva, fruto dos avanços da
bioquímica, do mesmo modo que pela crescente discussão sobre o uso de
preservativos, sobretudo masculinos, mas também femininos. O advento das
técnicas de contracepção abre perspectivas no sentido da emancipação
sexual da mulher que, a partir de então, poderia, ao menos em princípio,
fazer sexo sem que houvesse o perigo de uma gravidez não desejada. Mais
ainda, com o surgimento e a popularização dos preservativos, abre-se um
imenso leque de possibilidades para as experiências sexuais, dessa vez
sem o risco (evidentemente muito maior) da aquisição das doenças
sexualmente transmissíveis. Nesse sentido, o uso, o não uso e o mal uso
dos meios de prevenção a doenças, bem como dessa nova “liberdade”
conquistada por homens e mulheres, são temas de grande parte dos estudos
sobre sexualidade(s), em especial daqueles que envolvem juventude.
Do
ponto de vista das ciências humanas, há uma tradição muito pouco sólida
de estudos sobre sexualidade. Há um crescente interesse, nas última
décadas, pelos chamados estudos de gênero, por exemplo, assim como já há
estudos de referência sobre as vivências sexuais ao longo da história
(ver, entre outros, Foucault e sua célebre História da Sexualidade, publicada entre 1976 e 1984).
Já é possível também identificar um número significativo de estudos, de
maior ou menor impacto, num campo como o da antropologia (Loyola,
2000), investigando temas como a questão da sensibilidade, além do sexo
propriamente dito, como objetos de estudo ou enquanto vias para a
construção subjetiva de si.
No âmbito dos estudos de gênero, tema caro ao das vivências sexuais, além de questões como homoafetividade, universos queer entre outras, destaco como extremamente significativa a problemática das crianças e dos jovens intersex.
Na minha opinião, esse tipo de situação evidencia quais as nossas
referências sócio-culturais no que diz respeito ao sexo e à sexualidade.
Nesse sentido, trata-se de um fenômeno heurístico, isto é, um fenômeno
através do qual podemos captar, com alguma perspicácia, aquilo que se
passa no mundo hoje. Um bom exemplo de uma reflexão feita nesse sentido é
o estudo da antropóloga Paula Sandrine Machado, que contrastou as
perspectivas de médicos e familiares envolvidos nesse processo de exame e
interferência sobre a anatomia, que leva em consideração visibilidades e
invisibilidades do sexo dessas crianças e jovens. Ela propõe que “o
sexo é tão construído na cultura quanto o gênero e que as fronteiras
entre o natural e o não-natural são facilmente borradas quando se trata
de definí-las a partir do que é considerado dentro e fora das normas
sociais” (MACHADO, 2009).
II. Doutrina, doutrinadores e doutrinados: debates espíritas e sexualidades
Allan Kardek, n'O Livro dos Espíritos, dedica pelo menos três perguntas ao tema do sexo nos espíritos. Retomemos esse trecho:
“[Pergunta] 200 – Os espíritos têm sexos?- Não como o entendeis, pois, os sexos dependem do organismo. Entre eles há amor e simpatia baseados na identidade de sentimentos. 201 – O Espírito que animou o corpo de um homem, em nova existência, pode animar o de uma mulher, e vice-versa?- Sim, são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres.202 – Quando se é Espírito, prefere-se encarnar no corpo de um homem ou de uma mulher?- Isso pouco importa ao Espírito; ele escolhe segundo as provas que deve suportar” (KARDEK, 2005, grifos do autor).
Uma
das ideias centrais à doutrina espírita é, na minha leitura, a do papel
da experiência para o progresso do espírito. Afirmar que o espírito não
tem sexo (no sentido biopsicofisiológico que atribuímos ao termo) não
significa descrevê-lo como alheio à experiência sexual. A sexualidade
está, como vimos anteriormente, relacionada a diversas outras dimensões
da vida humana, como a família, a comunidade, a psique. Pode-se dizer
que é nesse sentido que Francisco Cândido Xavier perguntava ao público
do Pinga-Fogo, ainda em 1971, se o sexo, nas suas mais variadas
manifestações, seria condenado às trevas. Ele lembra, aliás, na ocasião,
que nós não somos chamados apenas à reprodução no sentido material, mas
também à fecundidade espiritual. Encontramos,
nos meios espíritas contemporâneos, ideias como essa, creio, de alto
calibre intelectual e moral, e que se mostram (se não completamente
corretas, porque humanas) ao menos construtivas, enriquecedoras do
debate. Receio, no entanto, que esse quadro não se repita em grande
parte (se não na maioria) dos debates espíritas de maior alcance.
Quarenta anos mais tarde, ao vasculhar textos e vídeos a respeito do
tema no meio espírita, encontrei um debate vago, ultrapassado do ponto
de vista científico (e mesmo religioso), acorrentado pelo preconceito,
uma das formas da crueldade humana, e turvado pelas sombras do senso
comum e da ignorância grosseira. O
leitor pode entender o meu comentário como um exagero. Mesmo porque,
não sendo um especialista nem em Espiritismo, nem em sexualidade, é
possível que eu esteja cometendo equívocos. Gostaria, porém, de explicar
os porquês desses adjetivos.
Primeiramente,
é preciso circunscrever o debate, observando de onde partem essas
ideias e qual o seu alcance. Embora a doutrina espiritista tenha sido
elaborada na Europa continental, a partir do trabalho admirável de Allan
Kardec (pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, 1804-1869), o
grande movimento espírita organiza-se e efetiva-se contemporaneamente,
até onde conheço, no Brasil. Aqui surgiram suas grandes lideranças do
século XX, aqui vive e daqui provêm a maioria dos seus adeptos,
simpatizantes, estudiosos, que orientam-se pela e dialogam com a
doutrina de maneira (diga-se de passagem) não necessariamente religiosa.
Não pretendo discutir esse tema, mas creio que seja importante observar
que quando falamos em “movimento espírita” referimo-nos,
frequentemente, ao movimento espírita brasileiro.
Segundo,
situado em um contexto brasileiro, o movimento tem reproduzido,
precariamente inclusive, ecos de um debate acadêmico antigo e local
(sobre esse debate acadêmico brasileiro, ver LOYOLA, 2000). Fala-se
ainda, em considerável parcela dos debates espíritas, em
“homossexualismo”, como se esse fosse “a” questão polêmica em termos de
sexualidade. A ciência, aliás, faz alguns anos, já nem mesmo faz uso do
sufixo “-ismo”. Muitos espíritas discutem, além disso, as causas daquilo
que grande parte deles ainda considera um desvio de comportamento. Não
as encontrando na ciência, cria-se, especula-se a respeito, na tentativa
de manter um discurso moralizante, quando não moralista, travestido de
entendimento. Esse não é um fato qualquer: contraria os preceitos-chave
da doutrina espiritista, que defende, de um lado, o crivo da razão e a
ciência e, de outro, a caridade, que também se manifesta no cuidado ao
falar sobre os outros, nossos irmãos (orientação dada, em verdade, por
Jesus, e assimilada pelo espiritismo, enquanto doutrina cristã).
Para
ilustrar esse aspecto, vale a pena citar trechos de depoimentos de
lideranças espíritas sobre o tema, colhidos recentemente por
pesquisadores no assunto (Cf. NETO et al., 2009, de onde foram retirados
todos os depoimentos que seguem). Foram entrevistadas quatro lideranças
espíritas. A primeira liderança (os nomes não são dados) afirma que “o
comportamento sexual entre homem e mulher também está bem definido na
própria natureza, a própria natureza está definindo. Quando a gente sai
fora, exagera, são questões puramente pessoais, questão de moral”. Essa
liderança segue associando qualquer “desvio” a essa definição natural,
ou “doença da alma”, como ele entende, às más inclinações de que nos
fala a codificação espírita. Essa liderança afirma também ser contra as
famílias formadas por pessoas do mesmo sexo: seriam, para ele, motivos
de sofrimento para as crianças. À bissexualidade, essa liderança associa
“a falta de educação” durante a infância, e argumenta: “a criança não
foi devidamente educada, porque ou se é heterossexual ou se é
homossexual. As duas coisas não consigo entender. Eu acho que quando é
as duas coisas é falta de educação, pra mim faltou educação”. Por fim,
procura explicar o fenômenos daquilo que denomina “um desvio sexual
estabelecido na natureza” ou homossexualidade: tratar-se-ia (cito agora
os pesquisadores que reportavam-se ao depoimento da liderança) de uma
“vivência conflituosa desta sexualidade na vida atual”, causada por
“transtornos e dificuldades vividos por uma pessoa no campo da
sexualidade, em uma vida pretérita”.
A
segunda liderança, mais moderada, observa que, junto com uma corrente
que considera a homossexualidade como um desvio, há outra que a
compreende como uma orientação sexual. Essa liderança mostrou-se
preocupada com a efemeridade das relações homossexuais e defendeu a
prática da monogamia como fundamento da construção da família – não
importando, então, os sexos dos seus membros. Cita o livro Sexo e Destino,
de André Luiz, psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira, apontando
que no “mundo vidouro os irmão encarnados, tanto em condições normais,
[quanto em] condições julgadas anormais, segundo os valores da
sociedade, serão tratados em pé de igualdade no mesmo nível de dignidade
humana” e que a lei caminha atualmente nessa direção. Para essa
liderança, por fim, “não é a orientação sexual que determina a condição
evolutiva de ninguém. (…) É onde você está mostrando qual o grau de
responsabilidade que você lida com a sua energia sexual, com a sua
sexualidade, independente da orientação sexual do companheiro”.
A
terceira liderança sustenta que se deve, acima de tudo, aprender “a
respeitar o outro e não ser promíscuo. Essa é a grande orientação. Eu
vejo no plano espiritual até um respeito muito grande àquele espírito”.
Observa que “o espiritismo nos coloca o sexo como algo que está presente
na natureza, faz parte da natureza humana. (…) Não vai se deixar de
viver o sexo, mesmo que não haja o casamento formal, com o papel, mas
que haja naqueles que passam a ter uma vida em comum uma
responsabilidade diante dessa vivência sexual, que essa vivência sexual
seja feita com respeito ao parceiro, que não haja uma promiscuidade, no
processo de sua vida sexual”.
Por
fim, a quarta liderança entrevistada argumenta também no sentido de que
o comportamento sexual é mais importante que a orientação: “o grande
problema (…) é a promiscuidade”, afirma. Defende a prerrogativa da não
proibição, mas sim educação, orientação. “Um livro do Chico Xavier
[ditado por Emmanuel], 'Vida e Sexo', que eu acho um livro fabuloso, mas
difícil. (…) Ele fala assim: 'não proibição, mas educação. Não a
abstinência imposta, mas o emprego digno, com o devido respeito aos
outros e a si mesmo. Não a indisciplina, mas controle. Não ao impulso
livre, mas responsabilidade, porque ante o amor, ante a luz do amor e da
vida, porque aplicação do sexo é assunto pertinente à consciência de
cada um” (cf. NETO et al., 2009).
A
julgar pela diversidade das posições, fica claro que os pontos de vista
são tendencialmente idiossincráticos e não necessariamente
doutrinários. Dito de outro modo, são as pessoas que fazem parte dos
movimentos espiritistas que, hoje, pensam assim; trata-se de uma
manifestação de suas ideias, e não de consensos ou mesmo de orientações
gerais propostas pela codificação.
Nos
meios acadêmicos, há anos já são problematizadas outras questões que,
pode-se dizer, estão mais afinadas com a sociabilidade contemporânea, no
Brasil ou no mundo. Ou seja, discute-se também, mas não apenas a homoafetividade. Nesse sentido, temas como o das crianças e jovens intersex
já têm sido discutidos, assim como as novas e futuras formas das
vivências afetivas humanas (nas suas diversas manifestações). Do mesmo
modo, também se reconhece e combate o problema da violência sexual,
cometida, em muitos casos, em casa, na intimidade do lar, por “pais de
família” “heterossexuais”, que estupram mulheres, filhas e filhos, que
são, ao menos nesse momento, vítimas indefesas. Nota: lembremo-nos que a
oposição vítima e verdugo representa, tanto na academia quanto na
doutrina espírita, uma discussão de maior complexidade, o que não
impede, no entanto, o reconhecimento de que o estupro é um ato de
violência e de crueldade.
Em
suma, o debate sobre sexualidade no espiritismo ainda está muito ligado
ao tema do homossexualismo - como eram designados, até os anos 1980,
parte daquilo que hoje configura os chamados estudos sobre
homoafetividade. Embora esse seja um tema importante e extremamente
atual, parece-me um tanto limitado abordar a questão da vivência sexual
somente partindo desse viés. No fundo, segue-se o princípio de que
devemos começar enfrentando os problemas, as mazelas e anomalias da
sociedade para podermos nos dirigir à nossa fatal felicidade, para
evoluirmos, caminhando na direção do bem. E, enquanto a homossexualidade
for vislumbrada como desvio, ainda haverá aqueles que pensam que
discutir a sexualidade a partir desse prisma é um ato de caridade.
III. Amor e Paixão, amores e paixões: tendências do debate?
O
debate sobre as vivências sexuais está em franca expansão, seja nos
meios acadêmicos, nos espíritas, seja na sociedade de um modo geral, em
nível nacional, regional e mundial. Trata-se de um dos temas que afloram
necessariamente numa situação de globalização, através da qual o
contato com o outro, as alteridades do mundo, é intensificado,
escancarando-se, factualmente, as diversidades do mundo. O debate
espírita, numa visão otimista, tem dado sinais de acompanhar, ainda que
um pouco tardiamente, aquilo que se tem discutido na ciência: através do
estudo, do bom senso, ou mesmo da reflexão amadurecida.
Encontrei
vídeos na internet (ver referências) nos quais as maiores lideranças
espíritas do país tratam do assunto. Eles não fogem completamente do
padrão apresentado na seção anterior desse texto, mesmo porque muitos
consistem apenas em respostas a perguntas de espectadores (e não em uma
exposição desenvolvida, por exemplo). O que me impressionou, no entanto,
foi uma tendência à recuperação de ideias fundamentais como a do
princípio do amor ao próximo, de Cristo Jesus, e sua articulação com a
reflexão sobre o tema na ciência e na moral espíritas. Assim, encontrei
uma entrevista com José Medrado, por exemplo, em que ele exorta os
espectadores a refletir sobre o ser cristão. Ele lembra que ser cristão
não é condenar, nem julgar, mas sim acolher e respeitar. Medrado também
esclarece que as causas da homossexualidade são desconhecidas à ciência –
como o são, acrescente-se, as causas de todas as manifestações sexuais,
inclusive as heteroafetivas, que não configuram mais que polêmicos
debates no meio científico [o adendo é nosso]. Medrado observa também
que muito da polêmica se deve ao estranhamento, isto é, ao choque
provocado por aquilo com que não se está habituado. Exemplifica, nesse
sentido, que muitas pessoas se chocam ao ver um casal de velhos se
beijando em público. Não é habitual, o que, note o leitor, não
significa dizer que não seja natural, que seja bom ou ruim. Nessa mesma
entrevista, Medrado transmite uma belíssima mensagem de um amigo
desencarnado (não identificado), que sintetiza sua explanação: “Nas
tramas e dramas da alma milenar, nada é conceituado ou definido com uma
simples oração”.
Em
outra gravação, Raul Teixeira defende a educação para a vida como
orientação para os espiritistas. Ele afirma, nessa direção, que “não
cabe ao centro espírita traçar diretrizes para a vivência sexual dos
seus frequentadores”. Isso representa, na minha opinião, um passo à
frente de boa parte dos movimentos brasileiros de fé. Frequentemente
aceita-se a diferença, desde que ela não seja tão diferente assim.
Outros,
no entanto, defendem que a homossexualidade e, talvez possamos
estender, todas as “irregularidades” afetivas e sexuais (no fundo é isso
que se diz) estão ligadas, em muitos casos, ao mal aproveitamento da
sexualidade em vidas passadas. Outra versão dessa teoria é aquela que
afirma serem homossexuais e bissexuais espíritos que guardam impressões
de uma vida anterior e vieram, assim, nesta vida, portadores de outro
sexo com o intuito de aprender. Sendo assim, a diversidade sexual
consistiria em um aprendizado. Isso é coerente com a doutrina espírita
que, como disse anteriormente, atribui enorme valor à experiência, já
que, por meio dela, complexificamo-nos, evoluímos da direção de Deus, da
totalidade divina. No entanto, embora aparentemente moralizante, esse
tipo de afirmação talvez esconda uma presunção que, diga-se de passagem,
parece-me muito corrente nos meios espíritas: a de que alguém possa
saber, de antemão, o que o outro tem para aprender.
Concluindo, tenho uma visão otimista dessa discussão, seja nos debates
espíritas, jurídicos, científicos, seja naquilo que se convencionou
chamar de senso comum, onde, a respeito desse tema, incluo-me
sinceramente. As afetividades, as formas de amar, são um tema complexo e
dinâmico, estando em constante debate e inovação. Bom será, no entanto,
se lograrmos distinguir entre o Amor (A maiúsculo) e os amores da nossa vivência terrena.
Referências
- Trabalhos escritos:
ALMEIDA,
M. 2003. “Antropologia e Sexualidade. (Consensos e Conflitos Teóricos
em Perspectiva Histórica)”, in FONSECA, L.; SOARES, C. VAZ, J. M. (Org.)
A Sexologia, Perspectiva Multidisciplinar. Coimbra: Quarteto, vol. II, pp. 53-72.
BOZON, M. 2004. Sociologia da sexualidade. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
KARDEC, A. [1857] O Livro dos Espíritos (Contendo os princípios da doutrina espírita). Trad. de S. Gentile. Araras: Instituto de Difusão Espírita, 2005.
LOYOLA, M. 2000. “A Antropologia da Sexualidade no Brasil”. Physis: Rev. Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, 10(1): 143-167.
MACHADO, P. 2005. “O Sexo dos anjos: um olhar sobre a anatomia e a produção do sexo (como se fosse) natural”. Cadernos Pagu (24), janeiro-junho, pp. 249-281.
MOTT, L. “Teoria Antropológica e Sexualidade Humana”. Salvador: UFBa, s/ data. Disponível online em http://www.antropologia.ufba.br/artigos/teoria.pdf (acesso em 29.09.2011)
NASCIMENTO, E. 2004. “Sociologia da sexualidade” [resenha do livro de Michel Bozon]. Ciência e Saúde coletiva. Rio de Janeiro, Oct./ Dec.
NETO, J. P. (et al.). 2009. “As representações da diversidade sexual no campo religioso”. Serviço Social & Realidade, v. 18, N. 1, pp. 241-276.
OLTRAMARI, L. 2005. “Sociologia da sexualidade” [resenha do livro de M. Bozon]. Revista Brasileira de Educação, n. 29, Rio de Janeiro, May/ Aug.
-Vídeos
disponíveis na rede mundial (acessados, pela última vez em 29.09.2011).
Os vídeos não trazem, contudo, a data da gravação.
“Educação homossexual”, trecho de uma palestra de Raul Teixeira. http://www.youtube.com/watch?v=Lh74DWcKhiM.
“José Medrado responde a perguntas sobre a Homossexualidade”, vídeo dividido em partes diversas. http://www.youtube.com/watch?v=F4qN3LHUN-g
“Homossexualidade e Espiritismo”, trecho do programa “Espiritismo via Satélite”, veiculado em 2001. http://www.youtube.com/watch?v=BQRQKs5ihEQ
“Divaldo Franco, Homossexualismo à Luz do Espiritismo” [a] http://www.youtube.com/watch?v=kDo-nvNkWb8&feature=related.
“O que fiz em vidas passadas para nascer Gay?” http://www.youtube.com/watch?v=eZ2swdCX_n8&feature=related
“Divaldo Franco. Homossexualismo à Luz do Espiritismo” [b] http://www.youtube.com/watch?v=PBtmwFUpqho&feature=related
“Homossexualidade – Profissão Repórter”, 3 partes, http://www.youtube.com/watch?v=oWYnFlQQ6Dk&feature=related
“Pinga-Fogo – Entrevista Chico Xavier”, 1971. http://www.youtube.com/watch?v=WW0ajzw1vbg
terça-feira, 20 de março de 2012
Amor a si mesmo
A síntese proposta por Jesus, em torno do amor, é das mais belas psicoterapias que se conhece: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Ante a impossibilidade de o homem amar a Deus em plenitude, já que tem dificuldade em conceber o absoluto, realiza o mister, invertendo a ordem do ensinamento,amando-se de início, a fim de desenvolver as aptidões que lhe dormem em latência.
Esforçando-se para adquirir valores iluminativos a cada momento, cresce na direção do amor ao próximo, decorrência natural do autoamor, já que o outro é extensão dele mesmo.
Então, finalmente conquista o amor a Deus, em uma transcendência incomparável, na qual o amor predomina em todas as emoções e é o responsável por todos os atos.
O Espírito Joanna de Ângelis, através da mediunidade de Divaldo Franco, apresenta a necessidade primeira de autoamor, como alavanca fundamental para a conquista de todas as esferas desse sentimento supremo.
Mas, de que forma amar a si mesmo?
O como a si mesmo, da proposta de Jesus, é um imperativo que não deve ser confundido com o egoísmo, ou o egocentrismo.
Amar a si mesmo significa respeito e direito à vida, à felicidade que o indivíduo tem e merece.
Trata-se de um amor preservador da paz, do culto aos hábitos sadios e dos cuidados morais, espirituais e intelectuais para consigo mesmo.
É sempre estar fazendo as melhores escolhas para si mesmo, vendo-se como Espírito imortal, sem nunca deixar de respeitar, obviamente, o bem comum.
Quando escolho amar mais minha família, dedicando-me inteiramente aos relacionamentos, cultivando a paciência e a tolerância, estou amando a mim mesmo.
Quando escolho perdoar e deixar de levar comigo o peso de uma mágoa, estou amando a mim mesmo.
Quando escolho aprender, buscando aprimoramento intelectual nas áreas do conhecimento de meu interesse, estou me autoamando.
Quando me aceito como sou e vejo em minhas imperfeições situações temporárias - uma vez que me esforço para corrigir meus erros - estou amando a mim mesmo.
Quando me dedico, diariamente, ao exame de consciência, à meditação, ao autoconhecimento, estou dando provas de amor a mim mesmo.
São exemplos de atitudes, de pensamentos e sentimentos que elevam nossa autoestima - que é este julgamento que fazemos de nós mesmos - e nos empurram sempre para frente, para a felicidade.
O autoamor proporciona uma visão mais clara de quem se é, do que se deseja e do que não se deseja para si.
É através dele que estabelecemos metas para nossa existência: metas educacionais, familiares, sociais, artísticas, econômicas e espirituais, pensando em nós não apenas agora, mas nos cuidados para com o futuro.
Somos todos importantes. Criaturas únicas no Universo que buscam a felicidade através do aprender a amar: a si, ao outro e a Deus.
Ame a você mesmo... Enquanto é hoje.
terça-feira, 6 de março de 2012
Avisos:
Pessoal! As reuniões do NEUU no primeiro semestre de 2012 serão realizadas todas as terça-feiras das 18h00min às 18h50min no PB02 (Prédio Básico; Ciclo Básico II).
Aproveitando, visitem nossa página no FACEBOOK Núcleo Espírita Universitário da Unicamp
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